É a este homem que os seus algozes de novo se levantam, agora, com a vontade de o glorificarem. A histeria em torno da sua morte só tem comparação com esses dias terríveis que lhe destruíram a vida. A pressão é tal que os médicos, que dele cuidavam, correm o risco de serem transformados em carrascos. Jackson não podia morrer. Não podia tomar drogas proibidas para dormir. Precisava de estar vivo. Mas para quê? É evidente que nesta guerra contra a sua mortalidade existe muito dinheiro pelo meio. A verdade que a polícia deve procurar tem a ver com a razão pela qual ele deixou de dormir até sentir a necessidade de ingerir medicamentos proibidos. Que sortilégio lhe levou o sono? Que angústia, mágoa ou ansiedade lhe trouxe a insónia? É muito natural que, entre outras explicações mais próximas, se encontre a mais definitiva das explicações.
Este homem, que desde miúdo foi dirigido para o palco, muitas vezes forçado, que não soube o que era brincar, que viveu e respirou palco, que se transformou numa das maiores estrelas do espectáculo do séc. XX, começou a morrer no dia em que o enxovalho público lhe foi destruindo plateias, o único caminho que aprendera rumo às estrelas. Esta ressurreição magoada revela a admiração que milhões de homens e mulheres pelo mundo tinham pelo cantor e dançarino. Admiração mitigada, escondida, pois os vampiros que lhe destruíram a imagem apenas o queriam vivo para continuar a destruí-lo. Fez bem em deixar-se morrer. O seu anunciado regresso não seria mais do que um pretexto para tornarem a despedaçá-lo. Assim, descansa em paz, longe dos vampiros do escândalo, sendo certo que viverá para sempre na memória daqueles milhões de anónimos que nunca deixaram de o admirar e aplaudir.
Dr. Francisco Moita Flores - Escritor, investigador, e ex-inspector da Polícia Judiciária
Fonte: jn.pt/blogs
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